Ministro das Relações Exteriores do Mali escreveu uma carta ao Conselho de Segurança da ONU para denunciar as violações do espaço aéreo do Mali. Soldados franceses da Operação Barkhane e oficiais malianos assinam documentos, em 4 de abril de 2022 em Gossi, Mali, enquanto a França entrega a base de Gossi ao Mali
Exército francês via AP
O Mali lançou novamente uma ofensiva contra a França, desta vez perante as Nações Unidas. Enquanto a retirada dos soldados franceses da Operação Barkhane foi concluída no início desta semana, o Ministro das Relações Exteriores do Mali escreveu uma carta ao Conselho de Segurança da ONU para denunciar as violações do espaço aéreo do Mali. Abdoulaye Diop também acusa o exército francês de apoiar os jihadistas.
A informação foi revelada pelos jornalistas da Jeune Afrique, mas a RFI também conseguiu obter esta carta: “Talataye em 6 de agosto, Lerneb em 7 de agosto, entre Tessit e Gao em 8 de agosto…” Em sua carta, Abdoulaye Diop lista uma série de intrusões aéreas no céu do Mali que, segundo o chefe da diplomacia maliana, serviu para a operação francesa Barkhane monitorar o exército maliano, intimidá-lo e, acima de tudo, “recolher informações em benefício de grupos terroristas e lançar armas e munições sobre eles”.
No total, o governo do Mali denuncia cerca de 50 violações do seu espaço aéreo por drones, helicópteros ou aviões de combate franceses, desde o início do ano.
Acusações e números já conhecidos pela comunidade internacional, já que o governo maliano já os havia denunciado no final de abril. Na época, o Mali e França se acusaram mutuamente de serem os autores de uma vala comum em Gossi. A França havia denunciado uma “campanha de desinformação” orquestrada pelos novos aliados russos de Bamako.
Visões divergentes
O fim da Operação Barkhane no Mali foi anunciado em fevereiro deste ano pela França, e sua retirada foi finalmente concluída no início da semana. Mas foi apenas em maio que o Mali contestou oficialmente os acordos de defesa que o vinculavam à França: desde então, os dois países tiveram visões divergentes sobre o que o exército francês ainda poderia fazer legalmente em território maliano.
Durante este período, a Operação Barkhane, que garantia a presença francesa em solo maliano, admitiu a realização de operações antiterroristas. Bamako denuncia “ações unilaterais descoordenadas” com o Mali e solicita uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU. O ministro Diop chega a ameaçar usar “legítima defesa” diante do que descreve como “agressão”.
General francês denuncia acusações “insultantes” do Mali
À frente da Operação Barkhane, o general francês Bruno Baratz reagiu às acusações das autoridades malianas.
“Para nós, soldados franceses, que sempre fomos transparentes em relação às autoridades malianas, achamos que é um insulto à memória dos nossos 59 camaradas que morreram lutando pelo Mali, e também à memória dos malianos que lutaram ao nosso lado, mas também os integrantes das forças africanas da Minusma que caíram lutando contra o terrorismo”, disse Baratz à RFI.
“É um pouco ofensivo da parte deles, porque, de fato, fizemos de tudo para lutar até o fim. Mesmo no momento do desligamento, houve um enfrentamento entre o pessoal da 13ª Brigada da Legião Estrangeira e um grupo do Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), causando duas mortes nas fileiras do EIGS. É absurdo nos acusarem de apoiar e ajudar o terrorismo”, completa o general francês.
O general Bruno Baratz, à frente da Operação Barkhane no Mali, em entrevista à RFI em 17 de agosto de 2022
Mounia Daoudi/ RFI
O Ministério das Relações Exteriores francês emitiu, nesta quinta-feira (18), um comunicado. “A França prosseguirá incansavelmente a luta contra o terrorismo no Sahel e na África Ocidental, em apoio aos esforços políticos, civis e militares da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (…) em plena coordenação com seus parceiros europeus e americanos comprometidos.”
“Condenamos a proliferação de manipulações de informação que não devem de forma alguma desviar a atenção da deterioração da situação de segurança e humanitária no país cujas populações são as primeiras vítimas”, completa o comunicado.
Fonte: G1 Mundo