Família criminosa de origem cigana passa a ser considerada um clã mafioso pela Itália

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A família Casamonica vive em Roma, e não no sul da Itália, como a maioria dos clãs mafiosos do país. Policial ao lado de um berço de uma criança da família Casamonica, em imagem de novembro de 2018
Alberto Pizzoli / AFP
A Justiça da Itália decidiu nesta semana que a família Casamonica é uma associação mafiosa e condenou cinco de seus integrantes a penas de até 30 anos de prisão por tráfico de drogas, extorsão e agiotagem.
Os Casamonica apareceram com destaque na imprensa italiana em 2015, durante o velório do “tio Vittorio”. O caixão dele percorreu as ruas em um carro fúnebre dourado puxado por cavalos. Um helicóptero lançou pétalas de rosa e cartazes espalhados na área da igreja em que aconteceu o funeral o apresentaram como o “rei de Roma”, enquanto os convidados eram recepcionados com a trilha sonora do filme “O Poderoso Chefão”.
Veja abaixo uma reportagem de 2019 sobre uma ação da Justiça italiana contra clãs mafiosos.
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Os Casamonica foram considerados por muito tempo um grupo criminoso, violento, mas local (mesmo que se soubesse de declarações de alguns membros da família, registradas em conversas grampeadas, de que teriam condições de desafiar os clãs mafiosos tradicionais).
Isso mudou esta semana, com a decisão da Justiça. “É um veredicto muito importante porque destrói a ilusão de que não há máfia em Roma”, diz Nando Della Chiesa, professor de sociologia especializado em crime organizado da Universidade de Milão.
“A cidade tem dificuldades para aceitar o fato de que não há apenas elementos de poderosas máfias calabresa (‘Ndrangheta) e napolitana (Camorra), mas que também existe uma máfia local”, afirma Della Chiesa.
Os Casamonica têm suas raízes na comunidade cigana. Eles chegaram a Roma em 1939 procedentes da região de Abruzzo.
Na época da morte do patriarca Vittorio, em 2015, seus descendentes eram conhecidos pela polícia por suas atividades como agiotas, com uma preferência por roupas chamativas e bijuterias.
Vittorio aprendeu o negócio da agiotagem com um amigo do submundo de Roma nos anos 1970, Enrico Nicoletti, apelidado de “caixa” da gangue Magliana, grupo que controlava o tráfico de drogas na capital.
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Casamento com o clã
Assim como Nicoletti, o “tio Vittorio” tinha contatos que tinham cargos em instituições importantes, como a polícia e o Vaticano, de acordo com uma testemunha.
Depois de fazer fortuna, a família construiu mansões com piscinas adornadas com mármore, móveis dourados e grandes estátuas de cavalos, uma referência às origens como comerciantes de cavalos.
Em 2018, a prefeita de Roma, Virginia Raggi, ordenou a destruição de oito imóveis construídos sem permissão que pertenciam aos Casamonica, decorados com tronos, falsos afrescos e leões.
Depois de estabelecer vínculos com traficantes colombianos, eles entraram no tráfico de cocaína.
Em 2012, 32 membros do clã foram presos. Quando as autoridades foram avaliar os bens apreendidos, notaram que eram avaliados em milhões de euros.
Os Casamonica não têm líder, mas funcionam como um “arquipélago” de ilhas unidas por casamentos arranjados, segundo um relatório do Observatório do Crime Organizado (CROSS).
As mulheres têm um papel importante, mas não são autorizadas a trabalhar fora de casa. As adolescentes são retiradas do sistema escolar após a primeira menstruação.
As relações amorosas com mulheres não ciganas são consideradas perigosas, segundo o relatório.
Testemunhar contra a família
Uma das testemunhas mais importantes, Debora Cerreoni foi intimidada antes de prestar seu depoimento. Ela é a ex-esposa de Massimiliano Casamonica, e aceitou testemunhar contra a antiga família depois de ser controlada, humilhada e ameaçada durante anos.
“Destruíram minha vida. Eu não me casei apenas com Massimiliano, e sim com todo o clã”, declarou no ano passado Cerreoni ao tribunal.
Após uma tentativa de fuga, “ameaçaram me dissolver em ácido”, afirmou.
Por fim, ela conseguiu escapar, e seu depoimento foi crucial para ajudar os investigadores a compreender o mundo dos Casamonica e, em particular, seu idioma, uma mistura de cigano, dialeto de Abruzzo e gíria romana.
“O impacto deste veredicto no clã ainda não está claro, mas uma coisa é certa: eles não gozam mais da impunidade da qual podem ter sido beneficiados antes”, afirma Nando Dalla Chiesa.
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Fonte: G1 Mundo