Negacionista do Holocausto foi enterrado em jazigo que pertenceu a professor de música nos arredores de Berlim. O bispo Christian Stäblein classificou o ocorrido como ‘um erro terrível’
EKBO via BBC
O enterro de um neonazista num túmulo vazio que antes pertenceu a um professor de música de família judaica gerou revolta na Alemanha e foi condenado pela Igreja Protestante do país e outras autoridades.
Os restos mortais do professor de origem judaica Max Friedlaender já haviam sido transferidos para outro local em 1980, mas a lápide ainda o homenageia em cemitério localizado nos arredores de Berlim.
No entanto, o corpo de Henry Hafenmayer, um negacionista do Holocausto — massacre de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial — foi enterrado no local na sexta-feira (8), depois de aprovada a reutilização do túmulo.
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O bispo local, Christian Stäblein, classificou o ocorrido como “um erro terrível” e visitou o local na terça-feira.
O túmulo fica em um dos maiores cemitérios protestantes da Alemanha, em Stahnsdorf, a cerca de 24 km de Berlim.
O professor Friedlaender, que morreu em 1934, era de família judaica, mas membro da Igreja Protestante. Ele era um cantor baixo (tom grave e raro da voz masculina) e musicólogo especializado nas canções de Franz Schubert.
Túmulo de Max Friedlaender, um musicólogo judeu que está enterrado no Suedwestkirchhof Stahnsdorf, na Alemanha, em foto de 12 de outubro de 2021. Nazista que negava o Holocausto foi enterrado no antigo túmulo do musicólogo judeu.
Jens Kalaene/dpa via AP
A imprensa alemã relata que Hafenmayer, o homem agora enterrado no jazigo em Stahnsdorf, era um negacionista do Holocausto e um blogueiro ligado a grupos neonazistas.
Apoiadores neonazistas colocaram coroas de flores sobre o túmulo, com mensagens nacionalistas e fitas adornadas com o símbolo da cruz de ferro da era nazista. Eles colocaram um retrato de Hafenmayer em frente à lápide coberta do professor Friedlaender.
O memorial foi coberto pelos funcionários do cemitério, prática comum quando um túmulo é reutilizado, informou a Igreja.
Entre os enlutados pela morte de Hafenmayer estava Horst Mahler, um neonazista que passou anos na prisão por incitação ao ódio racial, conforme a imprensa alemã.
‘Acontecimento chocante’
Em seu pedido de desculpas, o bispo Stäblein disse que o enterro foi “um erro terrível e um acontecimento chocante, em vista de nossa história”. O bispo, que dirige a Igreja naquela região da Alemanha, afirmou ainda que irá avaliar se é possível desfazer o ocorrido e de que maneira.
Fotos do funeral foram postadas no site de hospedagem de fotos Flickr pelo perfil RechercheNetzwerk.Berlin, organização que faz campanha contra o antissemitismo.
A organização diz que Hafenmayer publicou propaganda antissemita em seu blog, chamado “Fim da Mentira”, e glorificou o nazismo.
A Igreja diz que o representante de Hafenmayer havia originalmente solicitado um jazigo mais central, o que foi recusado pelas autoridades do cemitério, pois havia muitos túmulos judeus naquela área.
A seleção do antigo lote do professor Friedlaender parece não ter sido rejeitada porque os registros do cemitério o cadastravam como protestante.
Policiais e oficiais do departamento de proteção do Estado estiveram presentes no funeral, disse a Igreja, e as autoridades do cemitério estavam cientes das ligações neonazistas do morto.
O presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha afirma ter ficado chocado com o que aconteceu.
Josef Schuster diz que é insuportável que extremistas de direita “assombrem” o túmulo do professor Friedlaender e, ao fazer isso, profanem sua memória.
A própria Igreja Protestante aprovou que Hafenmayer recebesse um terreno (embora não este específico), apesar de suas conexões neonazistas, diante do princípio de que todos têm direito a um lugar de descanso final, informou a Igreja, mas não havia pastores protestantes na cerimônia.
Túmulos judeus e memoriais do Holocausto foram vandalizados anteriormente por neonazistas na Alemanha e em outras partes da Europa.
O oficial berlinense encarregado do combate ao antissemitismo, Samuel Salzborn, abriu uma ação judicial contra os enlutados por supostamente perturbarem a paz dos mortos e por incitação ao ódio racial.
Fonte: G1 Mundo