Entenda por que a Colômbia autorizou uma mulher que não tem doença terminal a ter eutanásia neste domingo

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Paciente de 51 anos tem esclerose lateral amiotrófica (ELA). Decisão inédita foi muito criticada pela Igreja Católica, bastante presente no país sul-americano. Martha Sepúlveda, colombiana que decidiu pela eutanásia, dá entrevista à TV colombiana
Federico Redondo Sepúlveda/Reprodução/Twitter
Está marcada para este domingo (10), às 7h (hora local, 9h em Brasília) a morte de Martha Liria Sepúlveda. Com esclerose lateral amiotrófica (ELA), colombiana de 51 anos é a primeira pessoa sem estado terminal a ter a eutanásia autorizada na Colômbia.
A eutanásia, ou morte assistida, é legalizada na Colômbia desde 1997. O país, aliás, foi o primeiro na América do Sul a legalizar o procedimento. Porém, a prática valia apenas para pacientes que tivessem doenças terminais — ou seja, seria uma forma de abreviar o sofrimento da pessoa em situação já irreversível, se assim fosse a decisão dela.
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Em julho de 2021, a Corte Constitucional — equivalente ao Supremo Tribunal Federal no Brasil — aprovou a extensão do acesso à eutanásia para pessoas que não estejam em estado terminal. A decisão foi autorizada por 6 votos favoráveis e 3 contrários.
A decisão estende a eutanásia “sempre que o paciente padecer de um intenso sofrimento físico ou psíquico, proveniente de lesão corporal ou doença grave e sem cura”.
É aí que entra a situação de Martha, com esclerose lateral amiotrófica (ELA). Em entrevista à emissora de TV colombiana Caracol, ela relatou sentir dores e ter perdido o movimento das pernas, o que a atrapalha na vida cotidiana.
Esclerose Lateral Amiotrófica
Infografia: Karina Almeida/G1
Já em julho, pouco depois da decisão da Corte, Martha solicitou a autorização e conseguiu. Primeiro, gostaria que a eutanásia fosse aplicada em 31 de outubro, mas preferiu antecipar para 10 de outubro — ou seja, este domingo — para as 7h, hora em que costumava ir à missa.
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Protesto contra o projeto de eutanásia em Madri, em 17 de dezembro de 2020
Susana Vera/Reuters
Poucos países autorizam a eutanásia ativa, que é quando a equipe médica em comum acordo com o paciente e/ou a família ativamente interrompem a vida do doente para abreviar o sofrimento.
O procedimento é diferente do suicídio assistido, quando uma pessoa sem doença procura auxílio médico para morrer por livre vontade, e da eutanásia passiva, que é a interrupção do tratamento que mantinha o paciente vivo.
Também é completamente diferente dos cuidados paliativos, ou seja, quando procedimentos mais invasivos deixam de ser feitos para prolongar a vida do paciente e os cuidados são mantidos para que o tempo restante de vida da pessoa ocorra sem dor e maiores sofrimentos, muitas vezes fora do ambiente hospitalar.
A eutanásia ativa é legalizada nos seguintes países:
Bélgica
Canadá
Colômbia
Estados Unidos (alguns estados)
Espanha
Holanda
Luxemburgo
Nova Zelândia
‘Deus não me quer sofrendo’
“Sou uma pessoa católica, me considero alguém que crê muito em Deus, mas, repito, Deus não quer me ver sofrer e acredito que não quer ver ninguém sofrer. Nenhum pai quer ver seus filhos sofrerem”, disse, em entrevista à emissora colombiana Caracol.
“Para mim, a morte é um descanso”, emenda.
Martha Sepúlveda e o filho Federico conversam com a TV colombiana: Martha decidiu pela eutanásia por sofrer com dores e perdas de movimento causados pela ELA
Federico Redondo Sepúlveda/Reprodução/Twitter
Por ser católica, aliás, a decisão de Martha encontra muita resistência dentro da Igreja, que costuma se posicionar contra a prática. Questionada pela TV colombiana como lida com isso diante de padres, ela responde:
“A resposta [que dou a eles] é a mesma: faço isso porque estou sofrendo e porque creio em um Deus que não quer me ver assim. Para mim, Deus está me permitindo isso, então se gosta de mim, não gosta de me ver nesta situação”, justifica.
Martha, então, tenta aproveitar os dias que lhe restam com cerveja e comida, na companhia da família. “Estou mais tranquila desde que autorizaram o procedimento. Rio mais, durmo mais tranquila”, afirmou à TV Caracol.
O filho Federico, de 22 anos, reconhece que gostaria de ter a mãe por mais tempo, mas afirma que aceitar a decisão da eutanásia é o “maior ato de amor” que já fez. “Em princípio preciso da mamãe, quero ela comigo, quase em qualquer condição. Mas sei que em suas palavras ela já não vive mais, apenas sobrevive”, disse.
Bispo pede que Martha repense decisão
Como a maioria da população colombiana, Martha se declara muito católica. Por isso, integrantes da Igreja colombiana pedem que ela reconsidere a decisão de interromper a vida já neste domingo. Francisco Ceballos, bispo de Riohacha, defendeu que “a morte não pode ser a resposta terapêutica à dor e ao sofrimento em nenhum caso”.
“Quero dizer à minha irmã Martha que ela não está sozinha e que o Deus da vida sempre nos acompanha, e que sua tribulação pode encontrar um sentido transcendental, uma chamada ao amor que se renova”, pediu o bispo, em vídeo divulgado nas redes.

Fonte: G1 Mundo