Primeira-ministra deixa o cargo após quatro mandatos e 16 anos no poder. Disputa que parecia definida voltou a ficar acirrada na reta final; candidatos do SPD e CDU – aliança que sustenta atual governo – tentam ocupar a vaga. Pôsteres dos três principais candidatos ao posto de primeiro-ministro alemão: Annalena Baerbock, do Partido Verde, Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), e Armin Laschet, da União Social Democrata (CDU)
AP Photo/Michael Sohn
Neste domingo (26), os eleitores alemães irão às urnas para eleger os membros do Bundestag, o Parlamento do país, e decidir quem será o substituto de Angela Merkel, que deixa o cargo de primeira-ministra após 16 anos e quatro mandatos.
Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD) lidera as pesquisas, seguido por Armin Laschet, da União Democrata Cristã (CDU), apoiado por Merkel. Annalena Baerbock, do Partido Verde, que chegou a liderar as intenções de voto, deve ficar em terceiro lugar.
Mas, segundo a agência France Presse, a disputa se tornou mais acirrada na reta final entre os social-democratas (SPD), com 25% das intenções de voto, e os conservadores (CDU/CSU), que subiram para 23% na pesquisa mais recente do instituto Civey, divulgada na quinta-feira.
O nome do novo chanceler, como é conhecido o premiê alemão, só deve ser confirmado, no entanto, daqui a algumas semanas, quando forem concluídas as negociações entre os partidos que irão se aliar.
Isso porque nenhum deles deve conquistar uma maioria absoluta, e certamente vai depender de uma coalizão para formar um novo governo. É assim que, atualmente, Merkel, da CDU, governa com apoio do SPD e da União Social-Cristã na Baviera (CSU).
Candidatos
Caso se confirme como o mais votado dos três, Scholz, de centro-esquerda, deve ter como aliado natural o Partido Verde, e é bastante provável que consiga chegar a um acordo sem grandes dificuldades também com os democrata-cristãos de centro-direita.
A partir da esquerda: Olaf Scholz (SPD), Annalena Baerbock (Partido Verde) e Armin Laschet (CDU), candidatos ao cargo de primeiro-ministro da Alemanha, em estúdio de TV em Berlim, antes de debate no dia 12 de setembro
Michael Kappeler/Pool via AP
Considerado um integrante da ala moderada do SPD, ele já sinalizou que não descarta conversas com nenhum outro partido, excetuando os populistas socialistas do Die Linke e a extrema-direita do Alternativa para a Alemanha (AfD).
Advogado, especializado em leis trabalhistas, Olaf Scholz tem 63 anos, é membro do SPD desde 1975 e foi eleito pela primeira vez para o Bundestag, o Parlamento alemão, em 1998. Também já foi ministro do Trabalho e prefeito de Hamburgo.
Considerado extremamente pragmático, já foi alvo de piada ao ser apelidado de “Scholzomat”, uma brincadeira com seu nome e a palavra “automat”, sugerindo que seria mais próximo de uma máquina do que de um ser humano.
O candidato do SPD se beneficiou principalmente da queda de Armin Larschet, que tinha tudo para substituir sua colega de partido, Merkel, com relativa tranquilidade.
Mas Laschet enfrentou acusações de ter cometido plágio em um livro escrito em 2009 (e respondeu dizendo que a publicação “claramente contém erros sobre as quais sou responsável”), precisou encarar o fato de que o estado que governa, a Renânia do Norte-Vestfália, concentra um dos maiores índices de casos de Covid-19 do país, e também é considerado vago na hora de apresentar suas propostas.
Menino com traje típico da região da Baviera entrega à primeira-ministra alemã Angela Merkel um biscoito gigante com a palavra “obrigado”, durante evento de campanha da CDU em Munique, na sexta-feira (24)
AP Photo/Matthias Schrader
Além disso, ao visitar uma região de seu estado duramente castigada por enchentes, foi flagrado rindo de uma piada no exato momento em que o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier fazia um discurso solene em solidariedade às vítimas.
Já Annalena Baerbock, com apenas 40 anos de idade, poderia ser a pessoa mais jovem a ocupar o cargo na história da Alemanha. Ela chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto, mas se tornou alvo de uma série de críticas e cobranças, e admite que cometeu “enganos” em sua campanha.
Ela foi acusada de incorreções em seu currículo, de atrasar o pagamento de impostos e de usar uma gíria considerada racista. Em todas as ocasiões, se desculpou rapidamente, mas teve a imagem prejudicada.
A candidata também se tornou o alvo mais frequente de desinformação destas eleições, com uma estimativa de que 70% dos ataques propagados através de fake news sejam direcionados a ela, com cerca dos demais 30% dirigidos a Armin Laschet e quase nenhum a Olaf Scholz.
Votação
O modelo de escolha do chefe de governo alemão é complexo e segue várias etapas. Começa com a votação dos eleitores duas vezes na mesma cédula eleitoral e termina com a aprovação do nome do novo chanceler pelo Parlamento recém-eleito (veja aqui os detalhes do processo).
No primeiro voto, os eleitores escolhem o candidato a representante de cada um dos 299 distritos eleitorais alemães. Cada partido apresenta seu concorrente, e há a possibilidade da participação de independentes desde que eles tenham ao menos 200 assinaturas de apoiadores.
No segundo voto, o eleitor marca o partido de sua preferência. Não precisa ser necessariamente a mesma agremiação do candidato da primeira votação. Ou seja, se uma pessoa preferiu um representante da CDU para representar seu distrito, ela pode sem problema algum votar no SPD nessa segunda escolha caso prefira essa sigla à outra, como um todo.
Para essa segunda votação, cada partido indica uma lista de lideranças políticas que podem representar cada um dos estados alemães no Parlamento, com ao menos 299 vagas. Nesse caso, os assentos são distribuídos proporcionalmente de acordo com o percentual de votos das siglas na eleição. Aí, cada agremiação ocupa as cadeiras correspondentes de acordo com a ordem da lista definida previamente.
Visão geral do Bundestag, o Parlamento alemão, em foto de 22 de outubro de 2013
AP Photo/Michael Sohn
Após a apuração e a atribuição dos assentos no Parlamento, o partido com mais votos busca uma aliança para indicar um nome para o cargo de chanceler. Esse nome é o do líder do partido, definido pela própria sigla geralmente antes mesmo da votação (neste ano, Scholz, Laschet ou Baerbock são os que têm mais chances).
Os parlamentares têm um mês para tomar posse e, aí, começar a efetivar o nome do chanceler a partir das coalizões. É muito difícil que um partido sozinho obtenha mais de 50% dos assentos no Parlamento da Alemanha, então o cenário mais provável é o da costura de alianças partidárias.
Finalmente, o nome indicado é levado ao presidente da Alemanha, que atualmente é Frank-Walter Steinmeier. Ele tem um papel cerimonial, não participa do governo, e apenas ratifica a indicação e a devolve ao Parlamento. Os parlamentares, então, em uma votação secreta, oficializam a escolha do novo chanceler alemão.
Initial plugin text
Fonte: G1 Mundo